terça-feira, 18 de junho de 2013





Autoritarismo Travestido
Não é por acaso que esta postagem não tem fotos. Eu não estou participando das manifestações por estar convalescendo de uma fratura no punho. Considerando que as manifestações são pacíficas, qual o impedimento? O impedimento está no fato do Estado brasileiro se comportar da mesma maneira, no que se refere a qualquer tipo de manifestação popular, contestatória, desde a época do império.
As primeiras manifestações populares contra o aumento de passagem de transporte coletivo, que se têm notícias, ocorreram entre dezembro de 1879 e janeiro de 1880. Essas manifestações contra o aumento da passagem do bonde em um vintém ficaram conhecidas como Motim do Vintém. O Estado, monárquico à época, respondeu com violência colocando 600 homens do exército para diluir as manifestações, em uma cidade de população inferior a 500 mil habitantes[i].
No sentido de repressão às manifestações populares, o que mudou em mais de um século? A tecnologia que a polícia possui para diluir este tipo de manifestação. Hoje a polícia tem um vasto arsenal de armas “não letais”, spray de pimenta, taser, bombas de efeito moral e de gás lacrimogênio e as famigeradas armas de bala de borracha. Mudaram-se os conceitos: hoje somos um país presidencialista e democrático. Mas as práticas e a maneira de lidar com os trabalhadores e estudantes continuam retrógradas e conservadoras. Quando se vota em alguém; quero deixar bem claro que não votei em Eduardo Paes e Sérgio Cabral, pressupõe-se que o político eleito está lá para defender nossos interesses, leda ilusão.
No século XXI eles assumem cargos eletivos para defender os interesses daqueles que patrocinaram suas campanhas e viabilizaram sua eleição. Todos nós sabemos a relação de promiscuidade que existe entre políticos e empresários de transporte rodoviário.
Pacificamente e pelos meios formais, os moradores das comunidades do Batan e Fumacê, há quase dois anos, vêm tentando que a Viação Bangu e Andorinha cumpram o contrato de concessão com a prefeitura sem lograr êxito. Como já foi explicitado, neste mesmo espaço, na postagem “Imobilidade Urbana”, nada foi feito. A Secretaria Municipal de Transportes Urbanos nos recebeu e o encontrou não redundou em nenhuma solução para as nossas reivindicações. Segundo eles a única maneira de punição são as multas, que são irrisórias. Não foi, em momento algum, colocada a possibilidade de rescisão do contrato de concessão. A prefeitura não tem mecanismos de garantir o cumprimento dos contratos. Por que será que nada é feito para mudar este estado de coisas? Minha família teme pela minha integridade física quando torno público este tipo de posicionamento. Por que será?
Como devemos agir quando nossas reivindicações legítimas não são atendidas? Vivemos em um Estado de direito? Faça-me rir, há mais de oito anos os servidores da UERJ não têm reposição salarial. Chega de silêncio e subordinação, vamos fazer valer a tão propalada democracia e obrigar os dois projetos de monarquistas absolutistas a atender às necessidades do POVO.





[i] Graham, Sandra Lauderdale, O Motim do Vintém e a Cultura Política no Rio de Janeiro 1880, in Revista Brasileira de História, v.10 n° 20, pp 211-232, 1991. São Paulo.




 
 

sábado, 1 de junho de 2013


Dançar, Verbo Intransitivo

                                                    Foto Armando Gamboa


            O despertador toca, anunciando a hora de acordar. Fernando prepara-se para mais um dia de aulas de ballet, e aulas na escola.  Esta rotina se repete desde que tinha cinco anos de idade, quando começou a estudar dança. No início era uma alternativa terapêutica aos “pés tortos” que Fernando tinha. O obrigando, inclusive, a usar botas corretivas. O que a princípio era uma necessidade, foi aos poucos se transformando em uma paixão.
            A paixão e o amor pela dança proporcionavam-lhe, como a paixão e o amor por outrem, prazer e dor. A dor física causada por muitos exercícios de alongamento e as infinitas repetições de movimentos, e a dor na alma, causada pelas dificuldades de relacionamentos com parte do grupo de alunos devido a sua origem: negro e favelado. Nosso protagonista aprendeu muito cedo o significado da palavra diferença.
Difícil mensurar o que doía mais, as enormes assaduras entre as pernas e virilhas, as bolhas nos pés; ou a maneira como era discriminado pelos colegas. Na década de 80 ainda não havia se popularizado o termo bullyng, hoje utilizado amplamente para caracterizar a perseguição a que algumas pessoas são submetidas, principalmente no ambiente escolar. Mas acredite, ele era vítima de bullyng. Único negro da classe, Fernando era o queridinho dos professores, por sua educação e talento, em contrapartida era alvo da inveja e do preconceito dos colegas.
            Mas o prazer de conhecer os limites do seu corpo e de ter seu talento reconhecido pelos mestres o fez perseverar e levar a frente a sua formação de bailarino. No palco estava sempre em posição de destaque, retinto, era um ponto negro em uma imensidão branca. Mas como já foi dito, ele não se destacava apenas pela cor, Fernando possuía um talento inconteste, que talvez passasse despercebido não fosse a necessidade terapêutica. Concomitantemente ao ballet iniciou aulas de sapateado, mas o clássico ainda era a sua grande paixão. De baixa estatura, no palco agigantava-se e impressionava pelas expressões corporal e facial, tocando a todos com a sua leveza, seu porte e capacidade de interpretar e dar sentido sem palavras. Seu corpo falava. Aos oito anos conquistou seu primeiro prêmio, e reconhecimento público do seu talento, com o espetáculo “O Vagalume Solitário”. Foi premiado em uma montagem de “A Megera Domada”, mais uma vez como segundo melhor bailarino.
            Podemos crer que o prazer e a necessidade de diversificar sua formação, eram maiores que as dores físicas e as causadas pelo preconceito. Já que aos doze anos de idade, decide alçar novos voos. Aceitando um convite, ele se afasta do ballet clássico e passa a estudar jazz e afro. A dança afro transformou-se na sua grande paixão e foi com ela que teve maior reconhecimento e alegrias. Numa sociedade ocidental influenciada diretamente pela cultura europeia, ele se redescobriu e se reinventou com contato com a cultura africana. Era parte de sua história e de seus ancestrais apagada pela escravidão, pelo tempo, e pela invisibilidade que estas representações culturais estão submetidas.
            Quando dança com os pés no solo, de olhos fechados, ao som dos atabaques, Fernando volta a sua outra matriz cultural, até então desconhecida. Sem hierarquizar o clássico e o afro são suas grandes paixões. Brasileiro, fruto da mestiçagem, a descoberta do afro não diminuiu sua paixão pelo ballet, mas sim complementou a sua formação cultural multifacetada e hibrida. São tradições distintas que não se contrapõem, mas antes disso, se complementam neste indivíduo fruto do tempo e do lugar dele.
            Na adolescência passa a integrar uma companhia de dança. Criada em sua comunidade, após uma chacina efetuada pelo braço armado do estado, a polícia militar. Esta companhia lhe proporciona aperfeiçoamento e novas oportunidades, assim como novas premiações. Com este novo grupo viajou, com um espetáculo para várias regiões do país, e próximo há completar vinte anos faz sua primeira turnê internacional, pelo Canadá e vários países europeus: Portugal, Espanha e França. Desta vez como principal bailarino da companhia, com um espetáculo afro “Nova Cara”, que fez muito sucesso. Após receber o convite para se apresentar no Japão, é na Europa que tem seu maior baque. Em uma apresentação no Bataclan, em Paris, fratura a patela e é obrigado a afastar-se de sua grande paixão.
            Tem-se início uma longa e dolorosa recuperação, mas a alma de artista o leva ao teatro, enquanto ainda estava em tratamento. Passa a integrar, como aluno, um grupo de teatro localizado no bairro, mas fora da favela. A expressão corporal que tinha cultivado durante vários anos na dança, agora é colocada a serviço das artes cênicas. Neste momento o artista fala com o corpo e vocaliza nas suas atuações. É uma fase de superação e novas descobertas. Nascem novas paixões: o teatro e os amigos conquistados durante a permanência no grupo. A convivência extrapola o espaço e os vínculos são cada vez mais estreitos, sejam nos ensaios ou apresentações, ou ainda em um acampamento numa praia deserta. Constrói sólidas amizades nos dois grupos que integrou em seu bairro.
Não chega a profissionalizar-se, mas se realiza e também tem seu trabalho reconhecido e premiado. Mesmo como ator amador atuou nos principais teatros da cidade do Rio de Janeiro como os teatros Carlos Gomes, João Caetano e Sesc Tijuca. A inquietação do artista permanece em sua alma e hoje pretende dar um novo sentido à sua arte. Deixar os palcos é algo impensável, mesmo num país onde a cultura é tão desvalorizada, e muitas das vezes o artista é obrigado a ter uma atividade paralela para sustentar-se. O prazer de estar no palco é indescritível e não tem preço. Vale a pena enfrentar preconceitos e dificuldades financeiras para realizar sonhos. Parafraseando o poeta Fernando, o Pessoa:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”

  Armando Gamboa

quinta-feira, 2 de maio de 2013


Ícone da Cultura Funk Carioca

As estrelas da noite
 
Marcelo Gularte, cineasta que dirigiu o premiado curta “Bangu Território em Transição”, fez ontem (01/05) a pré-estreia do seu mais novo documentário, também um curta, “Mc Magalhães uma Lenda Viva do Funk”. O filme conta um pouco da história desta pessoa emblemática da cultura funk que é conhecida em toda a cidade do Rio de Janeiro, sobretudo na Zona Oeste.
O diretor, habilmente alterna imagens do protagonista em diferentes locais da cidade do Rio, com depoimentos de Marcus Faustini, Chiquinho do Pandeiro, DJ Marcelo André, MC Leonardo, Clécio Régis, Mc Marcinho entre outras pessoas que conhecem e admiram o trabalho de Magalhães, além de sua mãe, D. Vera. As imagens do MC corroboram os adjetivos que os depoentes atribuem a ele: alegria contagiante, simplicidade, pureza, humildade e garra e afirmam a importância que ele tem para a cultura popular carioca. Gularte aborda ainda, a querela judicial com a Furacão 2000, que teria se aproveitado da simplicidade e pureza do Magá.
O “Rap do Trabalhador” tornou Magalhães conhecido em todo o Brasil, e é sua composição de maior relevância e reconhecimento. Esta música fez muito sucesso na década de 90 e inseriu Magalhães no cenário do funk, com o seu jeito crítico e peculiar de compor. A música trás uma crítica política a maneira como a prefeitura, sob a administração do então prefeito, César Maia, reprimia os vendedores ambulantes na cidade e fala do cotidiano do MC.

Tchurunanublaze............Maroulive
Tchurunanuglanver.........Maroulevre
Vendo Chokito-ô............Marouglive
Tira o Pali-blazer............Lalalalá
Vendo bala....................eu Trabalho
Vendo Chokito-ô............Magalhanze
Trabalhador-ô.................quele Rap
Euuueuderado................temarada
Vende Bombom-ô..........Magalhanze
Considerado-ô................qualquer parada
Compro barulho-ô...........Magalhanze
Trabalhador-ô..................vendo bala
Tomaram minha caixa.....de bombom-ô
Do serenata....................de amor-ô
Aquele Rap.....................eu trabalho
Considerado-ô.................patabalho
Vou pro Coleginho-ô.........César Maia
Quebrou a firma...............César Maia
Todo mundo duro-ô.........Magalhanze
"Agora dança do Magalhães vai lá ôôôô.......Magalhanze"
É quatofunke..................Maroulive
Tchurunanublaze............Marioklunfer
Cato garrafa....................No Mackenzie
É Magalhanze................Magalhanze
Você trabalha..................Vende Chokito
Tchurunanublaze.............Maroulive
Tchurunaluglanve.............lalalalá
Considerado-ô.................me pegaro-ô
Tomaram minha caixa......de bombom-ô
Serenata de amor-ôôô......Magalhanze
A Verdade.......................a verdade
Mando nas mulheres........eu que mando
É eu que mando...............Magalhanze
Você que é o cara............Magalhanze


                                      Foto Fernando Machado                             

Ignorando preconceitos gramaticistas, concordo com Marcus Faustini quando diz que existe sofisticação em sua composição e ele parece flertar com a poesia concreta, ainda que nem ele mesmo saiba disso.
O talentoso artista multimídia Marcelo Gularte, mais uma vez ratifica seu compromisso com suas raízes e volta seus olhos aguçados, para a zona oeste. Esta região da cidade que é extremamente esquecida por projetos culturais enquadrados ou não em editais públicos ou leis de incentivo a cultura. E tem uma carência enorme de espaços culturais públicos.
O filme, por se tratar de um curta metragem tem sua limitação temporal, e quando estamos nos divertindo e apreciando conhecer um pouco da via de Magá, abruptamente ele acaba nos deixando um "gostinho de quero mais".

quinta-feira, 25 de abril de 2013


Imobilidade Urbana
 
No dia 13 de março do corrente, uma comissão de moradores do Jardim Batan, reuniu-se com o senhor Tiago Almeida, assessor do secretário municipal de transportes, na própria secretaria. Um dos pontos em pauta era a regularização do horário e/ou itinerário de três linhas de ônibus que circulam na zona oeste e deveriam atender, entre outros, as comunidades do Batan e Fumacê. As linhas de ônibus 739 (Auto Viação Bangu), 731  e 784 (Viação Andorinha) têm intervalos irregulares e pelo menos uma das linhas (739) descumpre o itinerário original. Este é um problema crônico que culminou na criação de um Grupo de Trabalho (GT) de transporte, na tentativa de sanar este problema entre outros.
Estas empresas vêm, sistematicamente, desrespeitando os contratos de concessão que têm com a prefeitura. Em nossas reuniões do GT de transporte, em geral, temos a presença de representantes da CET-Rio e da SMTR. Inclusive, em uma delas, tivemos a presença de um representante da empresa Auto Viação Bangu, que justificou o número reduzido de ônibus em circulação por problemas de recursos humanos. Fizemos reclamações e abaixo assinados sem lograr êxito. Na reunião com Tiago Almeida foi indagado qual ou quais os mecanismos que a prefeitura do Rio de Janeiro tem para obrigar as empresas a cumprirem o contrato. Segundo ele, tem que haver fiscalização para confirmar as infrações e consequentemente a aplicação de multas. No entanto a empresa Auto Viação Bangu, apesar de multada várias vezes, continua mantendo um número insuficiente de coletivos e desrespeitando o itinerário original. Ficou acordado que seria feita uma visita técnica para apurar as denúncias e demandas. Até hoje nada foi feito e o quadro continua o mesmo.
No dia 25 de março sofri uma queda quando tentava embarcar num ônibus da linha 389, no Centro. Como saldo, consegui uma fratura no punho direito tendo que me afastar das minhas atividades laborativas. Ontem (24/04), tive que me dirigir ao cartório eleitoral da minha zona para justificar o fato não ter votado no último pleito. O cartório é no bairro de Deodoro e para ir e voltar de transporte público dependo das famigeradas linhas 784 e 731. Demorei duas horas e meia para efetuar o trajeto, mesmo não tendo fila para o atendimento no cartório e eu morando em Realengo[i]. Depois de muito esperar pelos ônibus, resolvi pegar outra linha tendo que andar quase um quilômetro para ir e voltar.
Por que somos tratados desta maneira pelas empresas rodoviárias que atuam na zona oeste e a prefeitura nada faz? Por que mesmo organizados e reivindicando não conseguimos alterar este estado de descaso? Porque tenho que pagar impostos e cumprir as leis e os empresários do ramo rodoviário não? O que sei é que, hoje é mais fácil movimentar meu braço imobilizado do que circular de ônibus na zona oeste.







                                                  Foto Alexandre Rosa










[i] http://maps.google.com.br/maps/ms?authuser=0&vps=5&hl=pt-PT&ie=UTF8&oe=UTF8&msa=0&msid=200462524380381953344.0004db339131e5f6d3d80

terça-feira, 23 de abril de 2013







O Funk em Nosso DNA

As comunidades do Batan e Fumacê viveram um final de semana culturalmente atípico. Estas comunidades pacificadas têm uma carência muito grande de atividades e espaços culturais. Entretanto, no último sábado (20/04), fomos agraciados com dois eventos de dança que privilegiaram a batalha do passinho – consequentemente o funk – como expressão cultural.
            O primeiro evento foi o DNA Carioca – 1° Seminário de Danças Urbanas - que produzirá atividades culturais sobre dança urbana até o dia 28 de abril em diferentes locais da cidade, além da Escola Municipal Costa do Marfim no Batan. O evento foi das 10h às 17h e teve apresentação dos grupos Jovens de Periferia Juvenil e Gambazinhos do Batan; eliminatórias do passinho; palestra com o tema “Histórias de encontro com o passinho” e o debate sobre o “Funk e seus 40 anos no Rio”. Os próximos encontros serão do dia 24 a 27/04 na Sala Eletrobrás e 28/04 na Fundição Progresso.
                                    Foto Renata Brum
            O segundo e mais badalado evento foi a etapa Batan/Fumacê, da Batalha do Passinho, que aconteceu no CIEP Thomas Jefferson, que fica à beira da Av. Brasil, entre as duas comunidades que formam o território da UPP Batan/Fumacê. A BXP foi um sucesso de público reunindo os moradores das duas comunidades em um único espaço e de modo fraternal. Foi a batalha da paz, pois historicamente essas duas favelas tinham uma rivalidade que extrapolava a questão de facções criminosas, gerando conflito entre moradores que nem pertenciam ao tráfico de drogas. Foi um importante passo para a integração entre estes moradores e gratificante, para mim, morador nascido e criado no Batan, ver tal união.
            O mais surpreendente é ver o funk como o elo de comunhão, e não mais como símbolo de expressão cultural violenta. E isto é fundamental para o retorno dos bailes que foram banidos das comunidades ditas pacificadas. Existe uma resistência muito grande das autoridades policiais e da segurança pública como um todo em autorizar estes bailes. Admito que o funk não seja meu estilo musical favorito, mas isto não pode me impedir de legitimar este como uma expressão cultural que mobiliza a juventude não só da periferia. Penso que o desafio da “pacificação” está além de expulsar facções criminosas desses territórios e permitir a entrada do Estado e seus serviços. É preciso garantir o acesso à cultura nas suas mais diversas expressões artísticas, incluído aí o funk.
Está na hora dos bailes voltarem e cabe aos especialistas em segurança pública garantirem a integridade física dos frequentadores. Gostem ou não o funk é cultura e é um fato. Nossos jovens merecem ter direito a lazer e cultura. Quando algo pode gerar problemas o mais simples é proibir, mas neste caso precisamos encontrar mecanismos para garantir viva esta expressão cultural já tão discriminada por nossa sociedade. A questão é: existe vontade política em dar acesso aos jovens aos meios culturais existentes? Ou o interesse é apenas manter a "ordem". Este governo tem dado mostras que é mais eficiente em reprimir do que libertar. Educação e cultura libertam!

                        Foto Maria Buzanovsky


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012


PAC 2 Batan – A Missão


Foto: Armando Gamboa

Em 14 de dezembro de 2010, o governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, anunciou um investimento de R$ 80.000.000,00 do PAC 2 no Batan. Esta verba seria destinada para obras nas áreas de habitação, esgoto sanitário, pavimentação, além de um ginásio poliesportivo. As obras seriam no ano seguinte (2011). Passaram-se dois anos e não tínhamos nenhuma informação sobre por onde andava o projeto, e menos ainda, se a verba já foi ou seria liberada. E se liberada, se seria realmente investida no Batan.
Esta questão foi abordada em algumas reuniões comunitárias, que eram promovidas mensalmente na sede da Unidade de Polícia Pacificadora. Hoje as reuniões são alternadas entre o Batan e o Fumacê. Nestas reuniões comparecem algumas autoridades ou representantes da esfera municipal e estadual. Que nunca apresentaram uma resposta satisfatória quando indagados sobre este tema.
Em minhas pesquisas descobri que no dia 24/10/11, foi homologada a licitação TP Nº 079/2011, que fixou o custo de R$ 737.431,00. Esta seria para melhorias urbanas e habitacionais (PAC 2) na COMUNIDADE JARDIM BATAN, localizada na Praça José Mauro de Vasconcelos – Realengo. A empresa vencedora da licitação foi a construtora Lopes Santos & Ferreira Gomes Arquitetos Ltda.
Esta obra não foi iniciada, e representa menos de 10% do que o governo do estado prometeu investir, no território pacificado, que agora foi ampliado. Até hoje esta obra não aconteceu. Por que será? Onde foram parar os R$ 737.431,00 destinados à benfeitoria? Infelizmente não temos respostas, no máximo especulações. na verdade, não existe sequer uma placa que identifique o local da foto como a tal praça.
Acredito que quando fez esta promessa, sem correr riscos de parecer leviano, o governador deveria ter garantias oficiais, da aprovação do projeto pelo governo federal. Penso que o projeto tem que ser apresentado à comunidade, para que os moradores possam, coletivamente, avaliar se este atende às suas necessidades.  Este anúncio foi feito na inauguração da única creche pública da comunidade que atende a 200 crianças de 4 meses a 4 anos. Infelizmente, o Espaço de Educação Infantil Batan não tem como atender todas as crianças, que estão nesta faixa etária e que têm a mãe “trabalhando fora”, e até agora o PAC no Batan não passa de uma expectativa. Esta é uma das diferenças do Batan em relação a outras comunidades pacificadas. Na mesma fonte onde encontrei informações públicas sobre esta licitação, estava repleta de obras aprovadas em comunidades que na época sequer eram pacificadas. Não bastassem as diferenças sociais entre a “favela” e o “asfalto”, identificamos uma hierarquização, nos serviços oferecidos pelas diferentes esferas governamentais, entre as comunidades pacificadas. A prefeitura, por exemplo, publicisa em um site, projetos que nunca foram implantados na região, propaganda enganosa.
A zona oeste continua sendo um curral eleitoral, que produz muitos votos e recebe pouco investimento em projetos sociais e obras de infraestrutura. Até quando assistiremos a tudo isso de braços cruzados e em silêncio? Precisamos dar um basta e fazer valer nossos direitos. Que, aliás, pelo que me consta, não está restrito constitucionalmente, ao direito de votar.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Política Habitacional e Meio Ambiente


Projeção

O Rio de Janeiro entrou no século XX às voltas com sérios problemas sociais. A crise de moradia agravada nas freguesias do centro, com a proliferação de cortiços e casas de cômodos, superlotados e insalubres, aliada aos deficientes serviços de saneamento básico, eram determinantes para a erupção de violentas epidemias de febre amarela, varíola, cólera-morbo e outras moléstias que faziam milhares de vítimas, elevando incrivelmente a taxa de mortalidade nos anos em que eclodiam.
 A essa altura as elites já haviam chegado a um consenso no seu diagnóstico acerca da cidade: a solução para os sérios problemas do Rio estaria assegurada pelo tripé saneamento / abertura de ruas / embelezamento. Era preciso sanear a cidade, alargar ruas, arejar, ventilar e iluminar melhor os prédios, implantar um modelo construtivo mais digno de uma cidade-capital, o que pressupunha demolir as habitações que não obedecessem a esses padrões de salubridade, e não saneá-las. Era a oportunidade que o poder público, na figura do prefeito Pereira Passos, tinha para expulsar os pobres do Centro da capital federal. Acredito que estes são os primeiros “sem-teto” que “a modernização” e o saneamento da cidade geram. São esses pobres desalojados que vão morar na “favela” no Morro da Providência onde já moravam os soldados do Coronel Moreira César e do General Artur Oscar que vieram da Guerra de Canudos, em 1897. Este período, que vai de 1903 a 1906, é conhecido popularmente como bota abaixo. Neste sentido, “As favelas surgiram como moradas possíveis de homens e mulheres pobres em uma ordem socioeconômica que se impôs ao processo de produção do espaço urbano carioca” (Barbosa, pg. 34).
Durante as décadas de 60 e 70 houve um processo de remoção de cerca de 140 mil pessoas residentes em favelas, sobretudo nas da zona sul da cidade. Neste contexto surgem conjuntos habitacionais na Cidade de Deus, Vila Kennedy e Vila Aliança (na Zona Oeste) e Vila Esperança (Zona Norte). “Tal processo autoritário e violento imposto às famílias residentes nas favelas, jamais escondeu o seu sentido de ‘limpeza’da paisagem e, sobretudo, o de apropriação por parte do mercado imobiliário de terrenos localizados em áreas valorizadas da cidade” (Barbosa, pg. 35). Parace-me que nessas décadas, mais uma vez houve política governamental de expulsar as “populações perigosas” das regiões valorizadas da cidade.
A partir da década de 90 é incorporado e fortalecido o discurso em defesa de preservação do meio ambiente. De preferência as áreas preservadas no Centro e Zona Sul. A Floresta da Tijuca torna-se a maior floresta em área urbana, como se o Parque Estadual da Pedra Branca, que tem maiores dimensões, não estivesse localizado no perímetro urbano.
E assim chagamos ao século XXI com esta seleção arbitrária, que tem o reforço da organização de grandes eventos na cidade como Copa do Mundo de 2014 e os jogos Olímpicos de 2016. Mais uma vez, assim como no início de século XX a cidade tranforma-se em grande canteiro de obras. Mais uma vez as áreas que recebem essas obras estão concentradas no Centro e Zona Sul, à exceção da Barra da Tijuca, que apesar de pertencer á Zona Oeste, virou a queridinha da especulação imobiliária e dos investimentos da prefeitura. “ A discriminação tem um sentido explícito dos lugares diferenciados da cidade e, evidentemente, da imagem que os simboliza” (Barbosa pg. 37).
As práticas da prefeitura na política pouco mudaram nesses últimos 100 anos. A novidade são os argumentos. Hoje expulsa-se os favelados das regiões mais valorizadas da cidade em “defesa” do meio ambiente. É o que vem acontecendo com os moradores do Pico do Santa Marta, da região em torno do Jardim Botânico e horto, e na Vila Autódromo.
Com relação ao Santa Marta o que o Estado está utilizando para retirar aproximadamente 150 moradores daquele lugar é a afirmação de que: vivem em uma área de risco. Por isso necessariamente tem que sair dali. No entanto, os moradores contra-argumentam dizendo que: pelos critérios apresentados pelo técnico da GEORio que esteve na favela no início de julho, “todo Santa Marta é uma área de risco”. Então, se o perigo vem do alto do morro, ameaça a todos que estão abaixo, logo, algo terá que ser feito para evitar possíveis catástrofes. De uma forma ou de outra, o trabalho de contenção naquele local será feito.
No Jardim Botânico e no Horto a questão está relacionada à delimitação da área que pertencente ao parque. Serão removidas 621 residências, que teoricamente, teriam invadido os limites do parque, ainda na década de 80. E na Vila Autódromo o argumento é de que a área está localizada numa região que passará uma via que está sendo construída para adequação da cidade para receber os grandes eventos acima citados.
Até aí nada de novo, não fosse o interesse da prefeitura em construir um resort e um campo de golf no Parque Municipal da Prainha. Os ricos podem prejudicar o meio ambiente para construir habitações, enquanto os pobres são obrigados a deixar as suas casas em nome da preservação ambiental. Quando interessa defender o meio ambiente? Onde estão e qual o posicionamento de órgãos públicos como o Inea e o Ibama, com relação a esta proposta? Podemos destruir áreas de preservação ambiental, desde que atenda aos interesses das grandes construtoras, e dê lucro sabe-se lá pra quem mais? A sociedade civil precisa se posicionar a respeito desta arbitrariedade.