Autoritarismo
Travestido
Não é por acaso que
esta postagem não tem fotos. Eu não estou participando das manifestações por
estar convalescendo de uma fratura no punho. Considerando que as manifestações
são pacíficas, qual o impedimento? O impedimento está no fato do Estado
brasileiro se comportar da mesma maneira, no que se refere a qualquer tipo de
manifestação popular, contestatória, desde a época do império.
As primeiras
manifestações populares contra o aumento de passagem de transporte coletivo,
que se têm notícias, ocorreram entre dezembro de 1879 e janeiro de 1880. Essas
manifestações contra o aumento da passagem do bonde em um vintém ficaram
conhecidas como Motim do Vintém. O Estado, monárquico à época, respondeu com
violência colocando 600 homens do exército para diluir as manifestações, em uma
cidade de população inferior a 500 mil habitantes[i].
No sentido de repressão
às manifestações populares, o que mudou em mais de um século? A tecnologia que
a polícia possui para diluir este tipo de manifestação. Hoje a polícia tem um
vasto arsenal de armas “não letais”, spray
de pimenta, taser, bombas de
efeito moral e de gás lacrimogênio e as famigeradas armas de bala de borracha. Mudaram-se
os conceitos: hoje somos um país presidencialista e democrático. Mas as
práticas e a maneira de lidar com os trabalhadores e estudantes continuam retrógradas
e conservadoras. Quando se vota em alguém; quero deixar bem claro que não votei
em Eduardo Paes e Sérgio Cabral, pressupõe-se que o político eleito está lá
para defender nossos interesses, leda ilusão.
No século XXI eles assumem
cargos eletivos para defender os interesses daqueles que patrocinaram suas
campanhas e viabilizaram sua eleição. Todos nós sabemos a relação de
promiscuidade que existe entre políticos e empresários de transporte rodoviário.
Pacificamente e pelos
meios formais, os moradores das comunidades do Batan e Fumacê, há quase dois
anos, vêm tentando que a Viação Bangu e Andorinha cumpram o contrato de
concessão com a prefeitura sem lograr êxito. Como já foi explicitado, neste
mesmo espaço, na postagem “Imobilidade
Urbana”, nada foi feito. A Secretaria Municipal de Transportes Urbanos nos
recebeu e o encontrou não redundou em nenhuma solução para as nossas
reivindicações. Segundo eles a única maneira de punição são as multas, que são
irrisórias. Não foi, em momento algum, colocada a possibilidade de rescisão do
contrato de concessão. A prefeitura não tem mecanismos de garantir o
cumprimento dos contratos. Por que será que nada é feito para mudar este estado
de coisas? Minha família teme pela minha integridade física quando torno
público este tipo de posicionamento. Por que será?
Como devemos agir
quando nossas reivindicações legítimas não são atendidas? Vivemos em um Estado
de direito? Faça-me rir, há mais de oito anos os servidores da UERJ não têm reposição salarial.
Chega de silêncio e subordinação, vamos fazer valer a tão propalada democracia
e obrigar os dois projetos de monarquistas absolutistas a atender às
necessidades do POVO.
[i] Graham, Sandra Lauderdale, O Motim do Vintém e a Cultura Política no
Rio de Janeiro 1880, in Revista Brasileira de História, v.10 n° 20, pp
211-232, 1991. São Paulo.